Sete em cada 10 pessoas no mundo* diz sentir-se exposta a riscos relacionados com as mudanças climáticas ou com a poluição. Perder qualidade de vida, associado por exemplo a temperaturas extremas ou a falta de água, é um dos riscos mais identificados.
Indústrias e entidades gestoras em todo o mundo, e em Portugal também, estão já hoje a acelerar importantes mudanças para uma gestão mais sustentável da água, para que este recurso essencial não falte amanhã! A sua empresa também quer acelerar, mas precisa de um empurrão? Deixamos 4 inspirações.
*Com base em estudo desenvolvido pela Veolia e a Elabe, em 2022, conduzido em 25 países, nos 5 continentes, países que cobrem cerca de 60% da população mundial e 68% das emissões globais de GEE.
A eficiência, das operações e do tratamento, é um dos pilares cruciais da gestão sustentável da água e a transformação digital é a chave, materializada por exemplo em sistemas de gestão inteligente da informação para apoiar as tomadas de decisão e também de smart metering.
A digitalização tem o potencial de fornecer uma grande quantidade de dados, que podem ser muito úteis na otimização do consumo de água e contribuir para a sua proteção. Mas isto só é possível se convertermos os dados em informação valiosa, que permita a gestão inteligente e eficiente de um recurso essencial como a água.
- Benefícios para o ciclo da água: aplicação de soluções inovadoras para melhorar a gestão operacional e comercial
- Transparência na gestão para administrações públicas: possibilidade de acesso a portais com dados abertos, etc.
- Benefícios para o planeta: redução do impacto ambiental através da otimização do consumo de água e redução das emissões de carbono
- Benefícios para cidadãos: leitura à distância, conhecimento em tempo real do consumo de água, avisos de possíveis fugas e faturação com base no consumo real
Aceleração em prática: digital ao serviço da transparência da informação
Numa importante indústria de papel e pasta de papel, a Veolia em Portugal implementou uma solução de instrumentação que serviu de base à criação de um sistema de comunicação remota de dados em contínuo à APA - Agência Portuguesa do Ambiente, de forma a dar cumprimento à Licença de Descarga de Águas Residuais. Por outro lado, foi aproveitada essa mesma instrumentação para automatizar alguns passos do processo de tratamento, melhorando a performance de exploração da ETAR daquela unidade industrial e otimizando custos com produtos químicos, racionalização de energia, custos de manutenção e tempos de intervenção.
Gostava de reduzir os seus consumos de água através da reutilização dos efluentes produzidos na sua fábrica? Ótimo objetivo, mas conhece as águas residuais resultantes da sua produção? Antes de iniciar um projeto de reutilização das águas residuais é muito importante fazer uma caracterização dos efluentes gerados de forma a identificar as oportunidades de reutilização, as opções de tratamento mais adequadas e os investimentos necessários associados. Durante esse processo de caracterização são ainda identificadas, a montante, oportunidades de melhoria no processo pré-existente de tratamento dessas águas residuais. Por vezes, pequenos ajustes podem resultar em eficiências muito significativas, com impacto na qualidade do efluente tratado e na redução dos custos de tratamento.
A Veolia tem em curso piloto de reutilização de águas residuais numa unidade têxtil da região Norte especializada há mais de 20 anos em tecidos celulósicos, onde o primeiro passo foi uma exaustiva caraterização dos tipos de efluentes gerados pela fábrica. Neste momento, já está em curso a implementação de um piloto tendo em vista a reciclagem da água, que consiste na implementação de um nível terciário de tratamento do efluente, assente no processo de filtração por membranas, tendo em vista uma produção de 3 m3/h de água reciclada para ser usada na etapa de tingimento.
A reutilização de águas residuais para reintegração nas cadeias produtivas obedece em Portugal a várias limitações, tendo em vista prevenir questões de saúde pública, não permitindo, por exemplo, que essa água de reutilização seja usada diretamente na produção de alimentos ou esteja em contacto direto com o ser humano. Então, uma empresa de alimentos e bebidas não deve sequer equacionar reutilizar as águas residuais geradas na fábrica? Nada mais incorreto. As possibilidades previstas e aceites pela legislação e entidades responsáveis pelo tema são múltiplas e há já várias indústrias e entidades gestoras a apostarem nesta solução.
Em Windhoek (Namíbia), região muito afetada por stress hídrico, há mais de 20 anos que a Veolia recicla águas residuais para consumo humano. Em Portugal, vários projetos piloto estão neste momento em curso ao nível da reutilização para usos industriais, com destaque para os setores de alimentos e bebidas, têxtil e automóvel |
No estudo desenvolvido pela Veolia e a Elabe, 68% dos inquiridos diz estar disponível para consumir alimentos regados com água reciclada, 66% para usar água reciclada na sua higiene pessoal e 53% admite beber produzida a partir de águas residuais. Surpreendido?
Aceleração na prática: o caso da indústria de alimentos e bebidas
A Veolia está presente desde 2018 numa importante unidade de produção de bebidas em Portugal, onde é responsável pelo tratamento de várias tipologias de águas para uso na fábrica (água de processo, água desmineralizada, água para produção de vapor) e também pelo tratamento das águas residuais tendo em vista a sua reutilização na instalação.
Os destinos da água reutilizada são as lavagens de espaços exteriores, a irrigação dos jardins e a incorporação em processos de produção de energia, como é o caso das torres de arrefecimento e condensadores de evaporação.
Dos cerca de 4.000 m3/dia de efluente tratado, 40% são já hoje reutilizados, contribuindo para reduzir significativamente os consumos de água da instalação, com impacto positivo nas reservas de água subterrânea do município onde se localiza.
Para essa reutilização é utilizada tecnologia de filtração por membranas, de ozonização e cloração.
Para além da produção de água e do tratamento e da reutilização de águas residuais, a Veolia garante ainda o tratamento das lamas resultantes da digestão anaeróbia dessas águas residuais, valorizando o biogás gerado nesse processo para ser aproveitado nas caldeiras da fábrica, na produção de vapor e na produção de eletricidade.
Apesar do tema central do dia de hoje ser a água, na Veolia temos sempre uma visão integrada dos desafios. Quando acompanhamos uma empresa no seu roteiro para a descarbonização olhamos e analisamos sempre o nexus água-energia. Porque a produção e o tratamento de água consomem energia, mas na verdade são também potenciais fontes de energia descarbonizada.
Aceleração em prática: reduzir a pegada do tratamento das lamas
Numa indústria automóvel em Portugal a Veolia implementou uma solução para reduzir a pegada ecológica do processo de tratamento de lamas biológicas. As lamas geradas na ETAR da fábrica são desidratadas e enviadas para valorização agrícola. No entanto, eram recolhidas manualmente de cada leito e posteriomente transportadas em camião, todos os meses. Com o projeto Geotube (um processo de armazenamento de lamas inovador, reduzindo volume e humidade) foi reduzida a logística de recolha mensal para uma única recolha anual, diminuindo a pegada ambiental do processo, nomeadamente a as emissões de CO2, mas também aumentando as taxas de reciclagem e recuperação das lamas desidratadas.
As lamas resultantes do tratamento das águas residuais são uma fonte interessante de energia de base renovável e local, quer nas ETAR municipais, quer industriais. Nessas lamas, existe matéria orgânica que pode produzir biogás, que se for tratado e valorizado permite produzir energia (elétrica e não só). O princípio do tratamento para que isso aconteça é a digestão anaeróbia, ou seja a utilização de bactérias anaeróbias (em ambiente sem oxigénio a 37oC), que permite a conversão da matéria orgânica presente nas lamas das ETAR em biogás.
Esse biogás pode também, se for sujeito a processos de purificação, ser transformado em biometano. Feito de átomos de hidrogénio e carbono tem uma composição muito semelhante ao metano de origem fóssil (que conhecemos como gás natural) mas, porque é feito de biomassa orgânica, as suas emissões, quando usado como combustível, são neutras em carbono.
É por isso que a sua utilização como fonte de energia de base local é mais sustentável e contribui de forma concreta para combater as alterações climáticas. E pode mesmo ser usado para produzir hidrogénio carbono-zero, que é também uma origem de energia limpa que se antevê muito promissora no futuro.
Estes gases verdes podem também ser usados para produzir combustíveis para veículos pesados ou para utilizações industriais, entre outras. Como a produção de resíduos orgânicos é constante, a sua valorização energética pode ajudar a complementar outras origens renováveis mais intermitentes como é o caso da eólica.