Num modelo de economia circular, a produção de fertilizantes orgânicos a partir de biorresíduos beneficia tanto a saúde dos solos como o clima. Quando associados à agricultura de precisão, contribuem para o desenvolvimento da atividade agrícola e melhoram o seu rendimento.
Cascas de legumes e frutas, cascas de ovos, restos de carne e de peixe - são exemplos de biorresíduos * , que representam cerca de ⅓ do lixo doméstico em Portugal**, cujo potencial de valorização está ainda longe de ser totalmente aproveitado.
A mudança de paradigma colocada pelos novos desafios da economia circular ao setor da gestão de resíduos urbanos, vertida na revisão da Diretiva-Quadro Resíduos (Diretiva (UE) 2018/851) e também preconizada no Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos 2020+ , aponta no sentido da obrigatoriedade da recolha seletiva de biorresíduos e consequentemente do incremento da sua taxa de valorização.
*Biorresíduos - resíduos alimentares, resíduos verdes e outros resíduos putrescíveis
** Dados de 2017, fonte APA
Um “regresso ao solo” é bom para o clima
A valorização dos biorresíduos consiste em utilizar este resíduo para a produção de biogás, através da metanização, ou como fertilizante agrícola, por compostagem. Os benefícios deste último são inúmeros: “Devolver resíduo biodegradável ao solo nutre as plantas graças aos seus fertilizantes ricos em azoto e fósforo, e enriquece o solo com carbono”, garante Maelenn Poitrenaud, responsável de inovação e desenvolvimento na SEDE, empresa do Grupo Veolia com mais de 40 anos de experiência na valorização de resíduos orgânicos e apoio à atividade agrícola neste âmbito.
"Em solos ricos em nutrientes, as plantas crescem mais rápido e capturam mais carbono pela fotossíntese"
Armazenar carbono no solo (atualmente ameaçado pela agricultura intensiva) é das principais alavancas na luta contra as alterações climática, promovidas pela iniciativa “4 por 1000”, que conta com a parceria da Veolia.
Acresce que a produção de composto evita o uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos, cuja produção é associada às emissões de N2O (óxido nitroso), um gás com efeito estufa que contribui para a destruição da camada de ozono.
Rumo à agricultura orgânica de precisão
A produção e utilização de fertilizantes, suportada por ferramentas inteligentes, está cada vez mais presente na agricultura de precisão. Por exemplo, o sistema AEROcontrol acelera a decomposição de resíduos através de uma sonda que mede parâmetros como a temperatura do composto, permitindo a otimização da injeção de ar, melhorando o processo de maturação e a obtenção de um composto de melhor qualidade.”
Também na fase de aplicação do composto é prestada cuidada atenção às plantas de forma a otimizar a sua absorção do fertilizante orgânico. “Bioestimulantes são aplicados à planta para potenciar o fertilizante, permitindo o seu crescimento ótimo e resistência ao ambiente”, realça Maelenn Poitrenaud. É o caso da startup Vegetal Signals, que está a desenvolver sensores para medir os sinais elétricos das plantas permitindo calibrar as suas necessidades de água e fertilizante.
“Sensores medem os sinais elétricos das plantas para calibrar as suas necessidades de água e fertilizante.”
O mesmo acontece com o solo, cujas características impactam a escolha do composto. Apoiando a agricultura de base orgânica, o Grupo Veolia tem conduzido testes de longo prazo envolvendo diferentes tipos de composto, em contexto de laboratório e também no terreno, de forma a otimizar a sua aplicação de acordo com as necessidades das plantas e do solo. Estes testes incluem a medição de diversos parâmetros, como a qualidade da água, a capacidade de reter azoto, a estrutura do solo, a densidade, a microbiologia, etc..
Esta informação destina-se a alimentar o algoritmo associado à plataforma Soil Advisor, que integra o efeito fertilizante do composto e gera recomendações aos agricultores sobre a melhor forma de utilizar o composto.