Reutilizar águas residuais em Portugal vale mesmo a pena?
É verdade que em anos de muita chuva tendemos a considerar a reutilização de águas residuais em Portugal como um não assunto. No entanto, não é um tema circunstancial, é estrutural, e profundamente relacionado com as alterações climáticas.
Também em Portugal já temos sinais claros de escassez de água. Mais no sul do que no norte, é certo. Mais no interior do que no litoral. Mas existe e a segurança do abastecimento aos portugueses exige que sejamos coesos e com capacidade de pensar no longo prazo.
Vejamos o caso da Catalunha, no país vizinho. É vivida uma situação de seca extrema sem precedentes e eles estavam já muito melhor preparados para enfrentá-la do que nós estamos.
De quem é a responsabilidade de combater a escassez?
A responsabilidade é de todos. Cada um à sua escala. Ao cidadão comum cumpre a utilização racional, a consciencialização, a informação para aceitar alternativas. Às entidades gestoras, às indústrias, à gestão central e local, cumpre implementar as melhores soluções para dar resposta a um problema que é estrutural e estratégico.
Nós, seres humanos em geral, que nos dizemos como a espécide dominante, não podemos só consumir, temos também o dever de devolver e reintroduzir os recursos aos ecossistemas. A pegada hídrica dos produtos e serviços que consumimos é muitas vezes desconhecida da população em geral, levando ao desperdício. Por exemplo, para produzirmos 1 litro de leite precisamos de mil litros de água.
Quando falamos em regenerar, falamos de regenerar águas residuais em água para reutilização?
Podemos falar de águas pluviais, de dessalinização, mas sim... as águas residuais urbanas são uma origem de água disponível, com grande volume e bastante estável na sua produção em grandes cidades.
Sabemos que o mindset atual ainda conota a água residual de forma negativa - é usada pelo homem nas suas atividade e fica poluída, mas hoje em dia temos tecnologia e processos que permitem reintroduzi-la com segurança nos circuitos produtivos e outros, incluindo a produção de água para consumo humano, como por exemplo na Califórnia ou Namíbia.
No entanto, em Portugal, de toda a água que usamos e poluímos só 1,2% aproximadamente é reutilizada. Numa situação de grande pressão sobre as reservas como a que se antevê nas próximas décadas temos o dever de olhar para este recurso com olhos de oportunidade.
E há garantias de que uma água residual, que foi poluída, pode depois de tratada realmente ser usada novamente em segurança?
Há vários níveis de tratamento possíveis, consoante o uso que pretendemos dar à água.
Esses níveis de tratamento acrescentam em relação aos anteriores "barreiras" aos poluentes. E dessa forma reduzem riscos.
Mas na construção dessa segurança não é suficiente a tecnologia. É fundamental informar o consumidor, por exemplo por via da monitorização da qualidade da água, em contínuo, para que o utilizador possa consultar.
E também leis aprovadas, que sejam efetivamente implementadas, introduzindo também o tema da fiscalização.
Existe uma resposta Veolia para uma regeneração segura das águas residuais?
Muitas repostas. Pilar central das atividades da Veolia, a gestão da água conduziu o Grupo nos últimos 170 anos, posicionando a Veolia enquanto líder neste setor.
A Veolia dispõe hoje de dezenas de tecnologias patenteadas que permitem um tratamento avançado das águas residuais, com e sem recurso a membranas. Com recurso a membranas dispomos de soluções de ultrafiltração diversas, biorreatores de membranas, osmoses inversas, eletrodiálise inversa. Mas também, sem recurso a membranas evaporadores, sistemas de ozonização, desinfeção e filtração, entre outros. E complementarmente uma experiência secular na escolha das melhores soluções para cada caso, cidades ou indústrias.
E depois, a aposta na inovação, que todos os dias nos permite aceder a novo conhecimento e a novas tecnologias!
Luís Jacinto
Responsável de Suporte Técnico
A espécie humana, que se diz dominante, então deve dominar ao nível da responsabilidade pelos recursos. Não pode só consumir água e rejeitar águas residuais, ainda que tratadas. Tem de garantir a disponibilidade do recurso água e isso coloca a palavra regeneração num lugar de destaque da nossa atualidade.
Uma resposta com futuro...
Sendo o setor agrícola atualmente responsável por 70% dos consumos globais de água em Portugal e, em virtude das alterações climáticas, a escassez de água disponível anualmente tem tendência para se agravar.
A Veolia integra o consórcio constituído também pela ADVID - Cluster da Vinha e do Vinho, a Águas do Norte, a Poças - Sociedade Vinícola Terras de Valdigem (SVTV) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) para a implementação de uma instalação piloto, a partir da qual será possível proceder à irrigação de vinhas com recurso a águas residuais tratadas numa das ETAR que integram o sistema multimunicipal de abastecimento de água e de saneamento do Norte de Portugal, e que permitirá igualmente o aproveitamento dos nutrientes e fertilizantes presentes na mesma.