25 países* estão expostos a um stress hídrico extremamente elevado todos os anos. No seu conjunto, albergam um quarto da população mundial. Portugal não está felizmente entre eles, mas nos últimos anos temos assistido a uma parte importante do nosso território, sobretudo nas regiões do interior e também no Algarve, fustigada por secas severas.
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*Relatório anual do World Resources Institute (WRI) - 2023
Se a água é um recurso renovável e continuamente em circulação, como pode ser escasso?
Embora a água seja efetivamente um recurso renovável e que circula em contínuo pelos ecossistemas, existem vários fatores que contribuem para que a sua escassez seja uma realidade:
- A sua distribuição é desigual: a água não está distribuída uniformemente em todo o Planeta. Algumas regiões têm abundância de recursos hídricos, enquanto outras sofrem com a escassez de água, estas últimas normalmente áreas com alta densidade populacional ou climas áridos.
- Crescimento populacional: a população mundial tem vindo de forma continuada a aumentar, fazendo também crescer a procura por água para beber, agricultura e indústria. Quando o crescimento populacional supera a disponibilidade de recursos hídricos, pode sobrecarregar o fornecimento e levar à escassez.
- Alterações climáticas: as alterações climáticas têm aumentando a frequência e intensidade de secas e inundações. Esses eventos climáticos extremos impactam a disponibilidade de água a cada momento.
- Poluição e contaminação: a poluição da água, causada por descargas indevidas de efluentes industriais e agrícolas, ou tratamento insuficiente de águas residuais, compromete a qualidade das origens de água para consumo. A contaminação das origens de água agrava ainda mais a sua escassez, pois limita a água limpa disponível para diversos fins.
- Gestão ineficiente da água: a gestão inadequada pode levar ao desperdício de água e ao uso ineficiente, sobrecarregando ainda mais os recursos disponíveis. Práticas inadequadas de gestão da água, como técnicas de irrigação ineficientes, infraestruturas de transporte de água envelhecidas (com rupturas, por exemplo) e falta de sistemas adequados de armazenamento de água, podem contribuir para a escassez de água.
- Sobrexploração de origens subterrâneas: a captação excessiva de água subterrânea para agricultura, indústria e uso doméstico pode esgotar os aquíferos subterrâneos mais rápido do que eles podem ser reabastecidos. O uso excessivo de recursos hídricos subterrâneos leva a uma quebra nos níveis de água e pode resultar em escassez de água a longo prazo.
- Conflitos e fatores políticos: a escassez de água também pode ser influenciada por fatores políticos e socioeconómicos. Disputas transfronteiriças de água, governance inadequada, falta de desenvolvimento de infraestruturas e gestão inadequada de recursos podem contribuir para a escassez de água em determinadas regiões.
Como gerir a água para que não seja escassa?
Perante os impactos das alterações climáticas na disponibilidade e na qualidade da água e perante o aumento da procura associado ao crescimento populacional, é fundamental ser adotada uma abordagem integrada e inclusiva deste importante recurso.
Por essa razão, é fundamental ter em conta uma multiplicidade de aspetos:
- Uso eficiente: promoção de práticas eficientes de uso da água na agricultura e na indústria e redução das perdas de água nos sistemas de transporte e distribuição de água às populações. Inclui-se aqui também a consciencialização dos utilizadores para a importância de um consumo responsável de água, de forma a que adotem boas práticas de uso e poupança.
- Despoluição: implementação de medidas e soluções para proteger e preservar as origens de água. Sistemas de monitorização remotos capazes de alertar para situações anómalas e a aplicação da regulamentação no que diz respeito às condições de descarga são alguns exemplos.
- Regeneração: promoção da reutilização e reciclagem das águas residuais e, nos casos em que se justifique, a dessalinização de água do mar, criando origens de água alternativas capazes de reforçar a resiliência dos sistemas.
Reutilização de água - que aplicações?
Com o aumento de episódios de seca e a intensificação do stress hídrico nas mais diversas geografias, a reutilização das águas residuais tratadas constitui uma origem alternativa cuja utilização se encontra em crescendo e com muitas aplicações:
Exemplos de reutilização de águas residuais urbanas
- Irrigação de campos agrícolas
- Rega de espaços verdes
- Usos urbanos não potáveis (exemplo: lavagens de ruas)
- Para utilização pela indústria
- Reforço das origens de água para consumo
Exemplos de reutilização de águas residuais industriais
- Arrefecimento de sistemas
- Limpezas industriais
- Reintrodução em processos industriais
Água de alimentação de caldeiras
Reutilizar as águas residuais tratadas deve ser uma solução complementar à otimização de consumos e à redução de desperdícios. Porquê tirar água do seu ambiente natural para regar um campo agrícola ou arrefecer uma instalação industrial quando nas proximidades existam volumes de águas residuais tratadas capazes de suprir essa necessidade que possam ser recicladas para o efeito?
Importa salientar, que o quadro legislativo que regulamenta o uso de água reutilizada é bastante exigente e diferente de país para país. Em Portugal, a entidade que licencia projetos e infraestruturas relacionados com esta temática é a APA - Agência Portuguesa do Ambiente - saber mais aqui
Vamos beber água reciclada no futuro?
Para muitas pessoas, a ideia de beber água que já circulou nos nossos autoclismos, chuveiros ou máquinas de lavar, entre outros, não é muito apelativa. E ainda assim, em certas partes do mundo, onde o stress hídrico é severo e afeta profundamente as populações, água com qualidade para consumo é já hoje produzida a partir de águas residuais filtradas e tratadas. Já hoje e, em alguns casos, como na Namibia, há mais de 50 anos, mas também na Austrália, Califórnia, Texas, Singapura... E amanhã na Europa? Em Portugal?
Na Europa têm, ainda assim, surgido nos últimos anos diversos projetos experimentais relacionados com a reutilização de águas residuais, nomeadamente para rega de espaços verdes e limpezas urbanas. Mas este movimento tem sido tímido. Em Portugal continental, em 2021, apenas 30 entidades gestoras produziram águas residuais tratadas para reutilização, correspondendo a 8,2 milhões de metros cúbicos, ou seja, a cerca de 1,2 % da água residual tratada em estações de tratamento. Acresce que a maior parte dessa água residual tratada foi utilizada pelas entidades gestoras para uso próprio e que apenas 13% foi fornecida a outras entidades para serem reutilizadas.
Os desafios relacionados com a reutilização da água já não são tecnológicos, mas sobretudo de âmbito regulatório e também de aceitação social.
Com 350 tecnologias patenteadas cobrindo cada etapa chave no processo de tratamento da água, a Veolia é uma referência reconhecida a nível mundial nesta área. Desde a filtração à desinfeção bacteriana e à remoção de micropoluentes, o Grupo é especialista em todas as tecnologias necessárias para apoiar indústrias e autoridades locais nos seus projetos de valorização de águas residuais. A reutilização, cujos custos associados têm vindo a ser reduzidos, apresenta-se como uma forma segura e eficaz de valorizar um recurso abundante (as águas residuais que resultam das nossas atividades) transformando-o em água de alta qualidade, com múltiplas aplicações, desde o consumo doméstico até à irrigação agrícola e paisagística.
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