Proteger os ecossistemas para preservar a biodiversidade

Monitorizar a biodiversidade, restaurar ambientes naturais, recifes artificiais… Não faltam soluções para preservar a riqueza e a diversidade de ecossistemas no nosso planeta. Muitas vezes até com benefícios para as atividades humanas.

 

Se um argumento adicional para proteger os ecossistemas fosse necessário, chegou-nos pela pandemia que vivemos. Ao recordar-nos que os seres humanos não são poupados pelas consequências da perda de biodiversidade e a destruição dos habitats naturais de espécies selvagens - que potenciam a transmissão de agentes zoonóticos (doenças ou vírus que podem ser transmitidos dos animais para os humanos e vice-versa) -, a crise pandémica global veio reforçar a emergência no combate ao que alguns cientistas já chamam de “sexta extinção em massa”. É importante relembrar que segundo um relatório de 2019 do IPBES (Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas), dos oito milhões de animais e espécies de plantas conhecidas no planeta, um milhão está em risco de extinção.

 

As oportunidades para agir são várias

De facto, diversas iniciativas têm surgido um pouco por todo o mundo, incluindo junto de entidades públicas e grandes empresas.

Lançado em 2018 pela Associação Francesa de Empresas do Ambiente (EpE - Entreprises pour l’Environnement), instituições científicas e ONGs, o Act4Nature reuniu mais de 60 empresas, incluindo a Veolia, sob o compromisso de evitar, reduzir e compensar de outra forma os seus impactos na biodiversidade. Anne Larigauderie, Diretora do IPBES, comenta: “As empresas têm todo o interesse em se preocupar com a biodiversidade, por razões económicas e de competitividade (o desaparecimento da biodiversidade pode prejudicar a sustentabilidade das atividades industriais em geral), por razões económicas decorrentes das escolhas do consumidor e por questões éticas”.

As Nações Unidas declararam 2021-2030 a Década para a restauração dos Ecossistemas.

No âmbito do European Green Deal a União Europeia definiu a Estratégia para a Biodiversidade até 2030. Restaurar florestas, solos e pântanos, e devolver espaços verdes às cidades é essencial para mitigar o impacto das alterações climáticas na nossa qualidade de vida.

Em Portugal, foi publicada a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade para 2030, ainda em 2018. Um reconhecimento do património natural do país quando se estima que Portugal seja 1 das 10 economias mais afetadas pela perda de biodiversidade até 2050.

Monitorização de alta tecnologia

Antes de agir sobre os ecossistemas, temos de conhecer o seu real estado de saúde e acompanhar a sua evolução ao longo do tempo. Em França a Veolia desenvolveu com o Museu Nacional de História Natural uma rede de sensores relacionados com algoritmos capazes de medir as populações de morcegos, aves e insetos em certas localizações, que servem como indicador da saúde do ecossistema. Esta ferramenta de monitorização automática, conhecida por VERBATIM, já é utilizada em Lille, Nice, Paris e Cagnes-sur-Mer (PACA) no sul de França. Em Cagnes-sur-Mer, "vimos a saúde dos ecossistemas melhorar em menos de dois anos, e o regresso de espécies raras e frágeis", diz Fabien Verfaillie, o ecologista responsável pelo projeto na Veolia. A Veolia está também envolvida no WiiX (Water Impact Index), uma ferramenta disponibilizada a municípios e indústrias que visam medir o impacto das suas atividades na qualidade - e quantidade - de água doce.

Por forma a encorajar os seus clientes a trabalhar em prol da biodiversidade, a Veolia construiu o Guia para a Gestão Ecológica em parceria com a IUCN (associação conhecida mundialmente pela sua Lista Vermelha de espécies ameaçadas), e a calculadora de gestão ecológica (EcoLogiCal), que estima o custo de uma gestão mais honrosa - mas não necessariamente mais cara - do ambiente.

Apoiar a Natureza a recuperar os seus direitos

Estes dados cruciais orientam depois as ações práticas no terreno. Por exemplo, em diversos locais, "áreas de resíduos vegetais - uma sucessão de ambientes húmidos propícios ao desenvolvimento da vida animal e vegetal aquática - foram estabelecidas entre certas saídas de estações de purificação e o ambiente natural, para limitar o impacto das águas residuais e proteger a biodiversidade”, explica Muriel Chagniot, coordenadora para o desenvolvimento sustentável da Veolia Water France.

 

Para descobrir:

A fábrica de andorinhas: proteger a biodiversidade no local de trabalho

Plantas selvagens, aliadas da transição energética e da biodiversidade

Repovoar rios e recifes artificiais

A preservação de ecossistemas aquáticos não é menos urgente e tem inspirado diversas iniciativas. De acordo com um relatório da IUCN de 2019, uma espécie de peixe de água doce em cada cinco está ameaçada de extinção em França. Daí as tentativas de reintroduzi-los em rios e ribeiros. “O repovoamento é usado como último recurso, proteger o seu ambiente é a verdadeira solução”, de acordo com o Museu de Besançon. Na República Checa, não menos que duas toneladas de truta arco-íris e marrom são reintroduzidas todos os anos nos cursos de água do país como parte do projeto “Trout Way” lançado em 2011. Ao mesmo tempo, “a qualidade da água do rio tem melhorado graças ao desenvolvimento do tratamento de águas residuais”, destaca Eva Kucerova, diretora de comunicação da Veolia para a Europa Central e Oriental.

Sabemos ainda, por exemplo, que os recifes de coral que acolhem inúmeras espécies de peixes, corais e plantas, podem desaparecer antes de 2050. Uma das soluções para restaurar estes frágeis ecossistemas consiste em substituí-los por recifes artificiais. O Scirena, sistema de reconhecimento e contagem de espécies subaquáticas, permitirá aos utilizadores rastrear a recolonização da fauna subaquática nesses recifes, construídos a partir de uma mistura de betão, fibras plásticas e sucata de ferro.

Benefícios para a humanidade

A biodiversidade é essencial, desde a purificação da água até à regulação do clima (captando e sequestrando CO2 atmosférico) e a produção do oxigénio indispensável à vida, graças à fotossíntese. De tal forma que certas soluções para os desafios da humanidade - acesso a água potável de qualidade, agricultura saudável, etc.- podem ser encontradas nas nossas interações com os seres vivos e na proteção dos seus habitats. As abelhas, por exemplo, em risco de extinção, são indispensáveis ​​para manter o equilíbrio dos ecossistemas e da agricultura. Mas não só: “Na área de Artois-Douaisis, com o nosso parceiro Biocenys (Apilab), as abelhas são colocadas sob vigilância e, ao mesmo tempo, servem como bioindicadores”, diz Laurent Kosmalski, diretor da área Artois-Douaisis para a Veolia Water France. “Ao recolher néctar e pólen, as abelhas dão sinais precisos sobre a saúde do seu ambiente imediato. As análises bioquímicas permitem identificar casos de poluição da água ou do ar”, enfatiza Frédéric Schneider.

 

Um exemplo entre muitos de como um ambiente saudável beneficia todos os seres vivos, incluindo os humanos.